Todo e qualquer humano normal usa ou já usou a incolável desculpa da falta de tempo para fugir, negar, se desculpar ou, quem sabe, lamentar por não ter feito algo que deveria fazer. Tudo desculpa, óbvio. O ponto é que as pessoas que insistem em utilizar essa enfadonha desculpa se esquecem que TODO mundo também a utiliza, e que, logo, ninguém mais acredita nesse papo.
Tecnicamente, se formos nos preocupar em tentar entender porque usamos essa desculpa, nos depararemos com as facilidades atribuídas à ela. Deve-se também levar em consideração na tamanha credibilidade da desculpa, que nesta década, assim como o mundo, completa dois mil e dez anos positivos de existência. Esta é uma idade considerável, não acham?
De mais a mais, e desculpa da falta de tempo é simples, compacta e objetiva. Ela é quase um verbo intransitivo – não precisa de complemento. Afinal, é mais fácil acreditar que um político não saiba o artigo da Constituição Federal que pleitea seu cargo por falta de tempo, do que acreditar que ele não saiba isto por que é cara-de-pau e não se interessou por este detalhezinho.
Falou em falta de tempo, pronto, todo mundo acredita. Não adianta, cidadão, dizer que não procura saber sobre as decisões parlamentares porque o assunto é chato demais e não interessa a você. Ninguém vai acreditar.Diga logo que você não acompanha decisões políticas porque não tem tempo. É mais, rápido, certo e não sai de moda.
Mas, se por ventura, você decidir mudar um pouco o seu quadro de desculpas esfarrapadas, deixo uma listinha das top 5 em eficácia:
1ª a inconfundível “Esqueci” – ela é geralmente usada em situações mais formais, como no trabalho,na escola, na Igreja e em outras instituições onde as pessoas frequentam com assiduidade e que quase sempre devem fazer coisas das quais não fazem, ou ESQUECEM.
2ª a quase infalível “não tinha entendido direito” – essa, particularmente é a minha preferida. Ela faz um mix de sinismo e coragem como eu nunca vi igual. Poucas outras desculpas vão ser tão habilidosas como esta. Geralmente, utilizada nas mesmas situações que “Esqueci”, “não tinha entendido direito”é perfeita quando se quer mostrar que você não fez algo que deveria fazer, mas configura um ar de interesse pelo que era pra ter sido feito. É como se você tivesse tentado, mas não conseguido. Ela é sutil, e de forma alguma deixa você com aquela cara de irresponsável. A única falha do “não tinha entendido direito” é que, de certo modo, isso te dá um perfil de imbecil e imcopetente. Mas relaxe, qualquer coisa, diga que não tem tempo pra nada na vida.
3ª a genial “ não tinha o (recurso)” – Essa é tão boa quanto “não tinha entendido direito”, pois também dá um aspecto de interesse ao que deveria ser feito. Porém, quando não se tem o (recurso) para realizar determinada função, o impacto pela não realização é mais profundo, mais dramático, mais intenso. Quando você não faz algo porque não tinha tal coisa para fazê-lo, a sua culpa está exonerada. Você imediatamente passa do posto do culpadao(*ainda que amenizado) para a vítima. É no mínimo confortante saber que as pessoas não vão te culpar por você ser um irresponsável, e ainda irão sentir pena de você – quem sabe irão te ajudar. É uma das minhas preferidas também.
4ª a fofíssima “te liguei, mas você não estava” – Seguindo a linhas das duas anteriores, esta desculpa da ligação demonstra preocupação e responsabilidade com o que deve ser feito. No entanto, ela é um pouco falha. Atualmente, foi arquivada pelo uso do torpedo, e-mail, scrap ou tweet. Mas não se assuste, ela pode ainda ser adaptada e ser facilmente reutilizada caso agregada à desculpa abaixo.
5ª a inestimável “tô sem internet/crédito” ou se preferir, “tô com problemas no computador/ celular ”- Essa desculpa funciona, na verdade como mídializadora da “te liguei, mas você não estava”. Com ela, você pode associar todos o meios de comunicação existentes na sua vida, para justificar o fato de não ter conseguido entrar em contato com alguém, e quiçá realizar determinada tarefa. Mas tenha cuidado, ao utilizar essa desculpa você precisará ter muita, muita cara-de-pau, pois com a existência de créditos extras pré-pagos e da Lan house, a sua credibilidade entrou em baixa. Logo, você deverá fazer um discurso bem argumentado e persuasivo. Caso necessite, utilize-a sempre vinculada à n° 2 ou 3. Pode ajudar.
E não menos importante no ranking, não poderia faltar a clássica
“Não estava me sentindo bem”, “Estava doente”, “Estava com dor-de-cabeça”, entre outras ligadas à doença – Esta é tão valiosa e infalível quanto a da falta de tempo. É bem antiga também, e por isso, bem credibilitada. Aponto a “desculpa das doenças”(como a chamo carinhosamente) como a melhor de todas, por dois critérios: pela sua impessoalidade, e pelo seu poder de incontestação. A desculpa da doença não precisa necessariamente ser ligada a você. Pode ser seu cachorro, seu marido, seu irmão, uma tia, ou caso prefira, seu vizinho. Claro, que ela requer um pouco de sangue frio da sua parte, mas assim como as outras, é só uma desculpa. O que importa se isso envolver, mais tarde, a realidade?! Isso é só superstição. Além disso, ela engloba todo o poder de persuasão e compadecimento das pessoas, coisa que as outras desculpas não têm (nem mesmo a da falta de tempo). Logo, quando todos estão o suficientemente sensibilizados com a sua história triste, quem terá a CORAGEM de dizer que é mentira? É batata, e com certeza, a melhor de todas.