Junto com a tal invenção de sociedade vieram as regras acopladas num fantástico livro de recomendações para vivermos bem. O livro da Moral, chamamos. Neste há tudo o que de mais dicotômico possa existir, começando pelo certo e o errado, passando pelo convém e não convém, terminando pelo aceito e não aceito. Medidas são feitas neste manual, estipulações são credenciadas à vontade de Deus, e assim nós seguimos vivendo.
Mas que foi que definiu o certo, o errado, o feio, o bonito, o bem e o mal? Como posso dizer que alguém é feio, sem ter a certeza que todos assim o vêem? Como posso saber que alguém é mau , sem ter que julgar sua postura frente à sociedade? Postura essa que se modula pelas regras aquém inventadas.
Na reflexão das minhas atitudes vejo que muitas coisas que faço, que olho, que julgo, e até mesmo meus quereres foram, na verdade, modulados pelo pensamento comum da bondade social. Quem já não quis, por exemplo, chutar um pombo ou tacar uma pedra naquele passarinho cagão da praça? Quem já não quis tacar um ovo pela janela e acertar alguém que passasse na rua? Quem já não quis riscar as chaves o carro daquele professor FDP?
Duvido que ninguém nunca pensou em coisas deste nível. Ou até pior, muito pior. Acontece que nós, fomos acostumados a pensar bonitinho, a execrar os nossos pensamentos (que eu chamo de empíricos) para nos enquadrarmos aos exemplos de humanidade que o próprio homem inventou. E para dizer que somos “democráticos”, nos acostumamos a classificar a tipologia das vontades e pensamentos de PERSONALIDADE.
Porra nenhuma ! Me diz ai, qual é a sua PERSONALIDADE???? Nenhuma. Não temos personalidade, não seja babaca. Somos todos humanos, somos todos maus por natureza, e acostumados por sociedade, a sermos bons. Você não sabe o que é o perdão, porque você não é capaz de perdoar. Você não sabe o que é piedade, porque você não tem capacidade para ela. Não é a toa que essas coisas são atribuídas a Deus, aquele que pode tudo o que não podemos e que, de quebra, engole as nossas atrocidades porque é BOM.
O homem não é bom. O homem quer se vingar daquele que lhe rouba um parceiro. O homem quer quebrar a perna daquele que é melhor do que ele em algo. O homem não tem pena de mendigos na rua, o que importa é que ele tenha seu sundae do MC Donald´s ao final do expediente. O homem mata. O homem rouba. O homem peca. Os homens, Nós homens.
Fazemos maldades, ainda que só em pensamento, para nos eximirmos do peso que é ser um selvagem reprimido. Somos tão acostumados à educação da bondade, que, por vezes, esquecemos a nossa essência e somos feitos de bobos. Não seja educado.
*Este texto surgiu no momento em que eu resolvi ajudar um amigo com um trabalho, e ele se deu super bem com o texto que EU havia escrito. A minha vontade de vingar expirou-se aqui.