Durante estes dias, me incubi a tarefa de fazer da minha vida jornalística um processo gradual da minha evolução também como escritora. Às pataquadas das experiências que despertavam em mim o desejo de escrever, me envolvi na função exaustiva de dar o melhor de mim, sob pena da minha própria crítica desconstrutiva. Todo escritor é, antes disso, um leitor. Eu, ao contrário, me propus a ser primeiramente a escritora e depois a leitora. Escrevi sem planos, sem regras, sem métricas, sem alvo. Quando deparei por mim, estava passando para o papel a oralidade informal dos meus pensares e desencadeando, em suma, o meu dilaceramento linguístico.
- Ora, como pude ser tão horrível naquilo que considero ser a melhor coisa que faço? Julguei dar o meu melhor, na estimativa de me sentir melhor, e quem sabe, de me admirar por isso. Fracassei. Nem sei se ao menos posso passar adiante o meu imprestigiado trabalho. Foi com suor e tesão que escrevi – e que escrevo. Foi na tentativa de me proporcionar desejo, de me fazer ser desejada que escrevi o que escrevi, e do jeito que escrevi.
Não entendo, pois, porque em mim a obra foge tanto ao autor. Por que em mim, o sentido das palavras, quando exteriorizadas, se perdem e se modificam? Não entendo porque saio do contingente particular a que me propus. Não entendo porque é tão mais simples para outros me entenderem do que eu mesma. “De onde vem esse material com o qual, supõe-se, o leitor se envolverá? Por que seu rumo dirá respeito também ao outro? Talvez porque o âmago da experiência humana venha da mesma fonte”, foi a resposta encontrada nas palavras de João Gilberto Noll, que assim como eu, não deve ter entendido o que escrevera tão brilhantemente quanto quem o lera.
Acredito, imediatamente após terminar de escrever este texto que as palavras costuradas aqui, da forma como foram, já não são tão parecidas com o que eu quis dizer. Sendo assim, lastimo a perda da autora que jaz em função da sua função. Acabei de pensar que os autores não existem. Eles são apenas transcritores das palavras. O sentido fica somente intrínseco a cada um.