O meu humilde bloguinho está longe de chegar a visibilidade bloguística das colegas seguidoras da Lola. Ele está mais para um diário digital do que outra coisa. Mesmo assim, acredito na riqueza dos meus posts, que assim como de todas as outras, refletem não mais que uma forma de expressão social. É aquela história , já que eu não posso bater numa pessoa por ela ser preconceituosa, racista ou hipócrita, então eu venho para o MEU blog e escrevo.
Foi assim que começou o meu pensamento crítico: escrevendo. E foi escrevendo que me livrei de muitas mágoas, ódio e raiva, que passavam por mim sem eu saber da onde vinham. Geralmente vinham da minha própria casa, da minha própria família, da minha própria mãe.
Eu sempre fui muito estranha. De fato. Eu nunca concordava com nada. Eu nunca aceitava nada. Eu nunca entendia nada. Na verdade, a principal coisa que me levava a ser a estranha do lar, era o fato de eu nunca entender como este funcionava. Isto é, nas palavras da minha mãe, eu não conseguia entender os papéis de cada um dentro de um lar - vale lembrar, que ela se pautava nos papéis de um lar tradicional; patriarcal.
Eu sempre fui muito estranha. De fato. Eu nunca concordava com nada. Eu nunca aceitava nada. Eu nunca entendia nada. Na verdade, a principal coisa que me levava a ser a estranha do lar, era o fato de eu nunca entender como este funcionava. Isto é, nas palavras da minha mãe, eu não conseguia entender os papéis de cada um dentro de um lar - vale lembrar, que ela se pautava nos papéis de um lar tradicional; patriarcal.
Pois bem, eu não entendia mesmo. E melhor - ou pior pra mim- eu não engolia ! Na minha cabeça não entrava essa história de que "o pai manda; a mãe e as filhas obedecem; logo, todos temos um lar feliz!".Por mais que eu tivesse preguiça e pirraça em fazer as obrigações essenciais para a organização de um lar, um dia - e isso foi aos doze anos de idade - eu descobri, na escola, um argumento tão bom quanto o da minha mãe para não tirar os sapatos chulezentos do meu pai da porta da sala : a igualdade de gênero.
Enquanto minha mãe relutava em defender que meu pai tinha todo o direito do mundo em explorar ela, eu e minha irmã, só porque ele trabalhava oito horas diárias, eu me arriscava a fazer os primeiros questionamentos sobre o poder supremo de um pai, numa casa em que as três mulheres presentes também trabalhavam (e estudavam) duro.
Claro que naquela época, essa minha inciativa indagadora, era tida primeiramente pela rebeldia teenager característica da idade, e segundo porque era sempre eu quem era obrigada a catar aquelas duas amostras de bombas de enxofre que meu pai carregava nos pés. A falta de credibilidade dos meus argumentos era visívelmente apreciada pela minha irmã mais nova, que sempre me aconselhava a calar a boca toda vez que eu me propunha a argumentar os também deveres do meu pai dentro de casa - que não minha visão não existiam. Era sempre eu a rebelde, logo o castigo era sempre meu.
Minha mãe era tão dependente das decisões do meu pai, que até pra resolver as freqüentes discussões comigo, ela dava o poder de persuasão à ele.
-Mas mãe, por que a gente tem que colocar o prato de comida na mão dele quando ele chega? Por que a gente tem que tirar das "Chiquititas", só pra ele ver o Jornal Nacional? Por que a gente tem que beber suco de goiaba, quando só ele gosta desse suco aqui? E o pior de tudo : por que a gente tem que tirar os sapatos dele, do pé dele e ainda lavar as meias dele??? Por que mamãe? Por quê? Só porque ele trabalha fora??? Mããããe, você também trabalha fora ! Mãe, você ainda trabalha em casa. Mãe, você ainda é esposa. Mãe, você ainda é mãe.
No dia em que eu gritei isso pra minha mãe, o meu pai chegou bem na hora, e adivinhem?! Ele me deu razão. Éééh, ele me deu razão : " você está gritando com a sua mãe por causa de dois sapatos?" Eu disse não. Na verdade eu estava. E ele continuou : "você está alterando a voz, dentro da minha casa, com a minha esposa, por um direito que você diz ser seu? Pois bem, direito concedido.Você não precisa mais fazer nenhuma coisa pra mim nesta casa. E tem mais...eu não quero que cenas como estas se repitam nunca mais, entendeu? Nem com você e nem com a sua irmã. Eu não tô criando filha pra ser capacho de homem nenhum, ouviu bem?
E assim ele terminou o discurso. Eu achei aquilo explêndido. Eu fiquei tão orgulhosa de mim, que nunca mais pude esquecer a primeira vez em que tive voz como alguém que sabe o quer. Como alguém com direitos a serem respeitados. Mas, acima de tudo, eu nunca esqueci como aquelas palavras do meu pai, por mais pesadas que tivessem sido pra uma menina da minha idade, foram definitivas para minha futura postura como mulher.
Pode parecer forçado da minha parte, mas o que me fez carregar a bandeira do feminismo não foi a passividade da minha mãe, nem o chulé do meu pai. O que me fez, definitivamente, abraçar a causa female de agir foi a promessa que fiz a ele:
- Pai, desculpe gritar com a mãe. Mas eu prometo nunca ser capacho de homem nenhum (beijei os dedinhos cruzados). Prometo !
- Então filha, promete não trocar o pai por homem nenhum, nenhum...nunca largar o pai...namoro só depois dos 30...promete??
Não preciso nem dizer que meu pai está lá até agora esperando eu prometer, né?!